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A questão das Identidades em Stuart Hall

Stuart Hall

Stuart Hall

HALL, Stuart. A identidade em questão. In: ______. A Identidade cultural na pós-modernidade. 11ª Ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2006. (pp. 7-21).

Questionamentos a cerca da “identidade” vem sendo amplamente discutidos dentro das teorias sociais, Stuart Hall, logo na apresentação de seu livro demonstra o argumento para tal discussão, apontando que: “as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado.” (HALL, 2006, p. 7). Tais mudanças se devem a um processo de deslocamento das estruturas que estabilizaram o sujeito e o mundo social, o que tem sido chamado de descentramento.

O autor se posiciona de modo afirmativo quanto a proposição de que as identidades da modernidade estão sendo descentradas. Hall salienta que por se tratar de um fenômeno social não é possível oferecer conclusões seguras e definitivas a cerca do tema.                                                                                                       

Stuart Hall observa que as identidades modernas, tem se fragmentado, desde as “paisagens culturais” de classes, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade. Tudo aquilo que antes ofereciam as localizações solidificadas do individuo no corpo social tem entrado em crise, tem se deslocado das estruturas. Este deslocamento se dá tanto a um nível “de seu lugar social” quanto “de si mesmos”. Hall aponta que tais mudanças fazem parte de um processo mais abrangente que nos leva a indagação se não é a própria modernidade que está passando por uma transformação, neste ponto Hall reforça a afirmação de um mundo em que vivemos como pós-moderno, sendo “pós” alguma concepção de identidade fixa.    

Três concepções de identidade:

Há três diferentes concepções de identidade de sujeitos: o iluminista, o sociológico (ou moderno) e o pós-moderno. Hall desenvolve seu argumento a partir do sujeito iluminista, o qual se baseia em uma concepção de sujeito racional, que dotado de capacidades de ação e uma consciência plena de si e do mundo, revela um sujeito centrado e unificado, cuja identidade emergia com ele desde que nasce, desenvolvendo-se ao longo da vida; vale salientar que esse sujeito iluminista, como observa Hall, era descrito como masculino.            

O sujeito sociológico, é mais complexo, trata-se de uma interação entre “o núcleo interior” e nas relações com o mundo exterior (pessoas, valores, símbolos, culturas). Trata-se de uma concepção interacionista, e que se tornou a visão conceptual da sociologia clássica, cuja base teórica assevera que a identidade forma-se da interação que existe entre o “eu” e a sociedade. O eu interior e real que existe essencialmente dentro dos indivíduos que forma-se e modifica-se entre diálogos que se dão de modo continuado com o mundo cultural exterior. Dentro desse contexto o individuo projeta e é projetado na identidade cultural, que “preenche o espaço entre ‘interior’ e o ‘exterior’” (HALL, 2006, p. 11), sendo alinhado aos objetos e lugares do corpo sócio-cultural, essa identidade da modernidade irá costurar o individuo às estruturas de modo que “Estabiliza tanto os sujeitos quanto os mundos culturais que eles habitam, tornando ambos reciprocamente mais unificados e predizíveis.” (HALL, 2006, p.12).          

O argumento de que as identidades estão mudando, vem demonstrar que o sujeito antes “unificado e estável” passa a ser composto não de uma, mas várias identidades, “contraditórias e mal resolvidas”. Junto com essas mudanças de identidade, muda também o processo de identificação (o modo como o sujeito se projeta na cultura) com o mundo exterior que é cada vez mais problemático, variável. Eis o sujeito pós-moderno, cuja(s) identidade(s) se define:

historicamente, e não biologicamente. O sujeito assume em diferentes momentos, identidades que não são unificadas ao redor de um “eu” coerente. Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas. (HALL, 2006, p 13).

O caráter da mudança na modernidade tardia

Dialogando com alguns autores a cerca da modernidade, Hall demonstra um aspecto importante para compreendermos este processo de mudança nas identidades, relacionado ao momento que a sociedade vem passando com a “globalização”. Citando Marx, ele assevera o caráter de constantes e rápidas mudanças provocadas pela modernidade, cuja sociedade industrial está ligada aos processos de modernização, o surgimento de novas tecnologias que tornam as antigas obsoletas.                                                                                                     

Anthony Giddens ressalta que a conexão possibilitada pela globalização põe o mundo em conexão, de modo que ao serem interconectadas propagam ondas de transformação, alterando a natureza, o ritmo e o alcance das instituições modernas. Essas mudanças como salienta Giddens “tanto em extensão, quanto em intensidade, as transformações envolvidas na modernidade são mais profundas do que a maioria das mudanças características dos períodos anteriores […] elas alteraram algumas das características mais íntimas e pessoas de nossa existência cotidiana. (GIDDENS apud HALL, 2006). 

Citando David Harvey que fala na modernidade como “rompimento impiedoso de toda e qualquer condição precedente.” Hall traz Ernest Laclau para a discussão, demonstrando o deslocamento dos centros não por apenas um centro, mas por “uma pluralidade de centros de poder”. Estas sociedades são compostas por uma multiplicidade de poderes e forças, que não tem nem uma ordem, ou linearidade, de acordo com Laclau as sociedades da modernidade tardia se caracterizam pela ‘diferença’, e são essas diferenças que marcam os a variedade de identidades (leia-se sujeitos) e seus antagonismos sociais.

Como afirma Stuart Hall:

A sociedade não é, como os sociólogos pensaram muitas vezes, um todo unificado e bem delimitado, uma totalidade, produzindo-se através de mudanças evolucionárias a partir de si mesma, como o desenvolvimento de uma flor a partir de seu bulbo.

Essa identidade do sujeito pós-moderno abre um leque para inúmeras possibilidades, é uma concepção totalmente nova e diferente das demais. Novas identidades, novos sujeitos. Essa mudanças em todos os autores aqui abordados no estudo de Stuart Hall asseveram para o caráter da descontinuidade-ruptura e fragmentação, que são pontos chave para compreender a multiplicidade de identidades (leia-se sujeitos) e discursos no mundo pós-moderno. É importante (re) pensarmos essa questão, para compreender e aprender a respeitar as multiplicidades de identidade se sujeitos aos quais somos confrontados em nossa contemporaneidade.